segunda-feira, 23 de maio de 2011

Bactérias e antibióticos - problemas de resistência bacteriana

Até aos meados do século XX milhões de pessoas faleciam devido às infecções bacteriológicas. Nas guerras e na vida quotidiana a ausência quase total de higiene e de cuidados médicos promoviam o desenvolvimento de bactérias patogénicas que podiam matar o Homem. O grande progresso da medicina e a melhoria de condições de vida devem-se não só ao aumento de cuidados de higiene, mas sobretudo ao aparecimento de novos fármacos com propriedades anti-bacterianas – os antibióticos.
A descoberta do primeiro antibiótico deve-se ao mero acaso. Alexander Fleming, bacteriologista inglês descobriu a penicilina quando estudava o desenvolvimento de estafilococos, bactérias mais perigosas para o ser humano. Por coincidência, em algumas preparações com culturas microbianas expostas ao ar durante três semanas começou a desenvolver-se um bolor branco que impedia o crescimento de bactérias. Este fundo produzia uma substância anti-bacteriana – penicilina (provem do nome científico do fungo Penicillium chrysogenum). Este bolor tem uma relação de amensalismo ou antibiose com as bactérias, como já foi dito, impedem o desenvolvimento das bactérias através de produção de antibióticos que destroem as paredes celulares de peptidoglicanos da bactéria.
Uma vez apurados e sintetizados in vitro, esta substância pode ser usada para curar muitas doenças, desde pneumonias até infecções de sangue. É um dos medicamentos mais importantes para o sistema de saúde de actualidade.
Não querendo desvalorizar a importância dos antibióticos e a sua enorme contribuição para a manutenção da Saúde Publica, temos de dizer que o uso descontrolado de antibióticos pode provocar o aparecimento de bactérias resistentes a estes. A resistência bacteriana é um problema da actualidade, no dia Mundial da Saúde de 2011 este foi o tema principal. A Organização Mundial da Saúde alerta para proliferação de bactérias e outros microrganismos resistentes a medicamentos (http://hipernews.net/2011/04/07/dia-mundial-da-saude-combate-a-resistencia-microbiana-e-o-tema-de-2011/ ). Um dos exemplos mais demonstrativos são as bactérias da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) que tornaram-se resistentes aos antibióticos. Estas circulam, principalmente, dentro dos hospitais.
“Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o avanço desses microrganismos ameaça a eficácia de vários tratamentos e cirurgias, como no caso de cancro e o transplante de órgãos. Além disso, a resistência microbiana prolonga a doença das pessoas, eleva o risco de morte e torna os tratamentos mais caros. No ano passado, foram registados, pelo menos, 440 mil casos de tuberculose multirresistente e 150 mil mortes em mais de 60 países.”

As bactérias são seres procariontes, sem o núcleo, com o DNA circular não associado às histonas. Estes microrganismos reproduzem-se por divisão binária e durante a replicação do DNA são frequentes os erros, alterações de sequência de nucleótidos – as mutações. Algumas destas mutações são perigosas e outras são benéficas, conferindo-as resistência a algumas substâncias. Uma única bactéria mutante resistente a antibióticos vai originar duas bactérias-filhas dentro de 20 minutos, dentro de um dia a cultura bactéria na irá ter milhões de bactérias. Em poucos dias estas bactérias podem contagiar centenas de pessoas e sendo resistentes a antibióticos irão proliferar sem reagir aos fármacos. As bactérias resistentes podem passar o gene que lhes confere protecção contra os antibióticos às bactérias vizinhas se o gene estiver num plasmídeo bacteriano. As bactérias podem transferir plasmídeos pelos pili (tubulos especiais) e adquiri-los do meio envolvente. As bactérias, com os mecanismos de mutações genicas, criam mecanismos de defesa contra as substâncias dos bolores. Um destes genes que tornam a bactéria imune aos antibióticos é NDM-1.
O gene NDM-1, encontrado nas bactérias resistentes à maioria dos antibióticos, foi detectado em amostras de água supostamente potável de Nova Deli, na Índia, revela um artigo publicada na última edição da revista "The Lancet", num suplemento sobre infecções que alude à "necessidade urgente" de uma acção global contra a proliferação mundial deste gene.
O uso descontrolado e incorrecto de antibióticos é a possível principal causa para a proliferação de “superbactérias”. Como tal, a comunidade científica encontra-se preocupada com a possibilidade de difusão de bactérias resistentes, imunes a antibióticos.
Hoje em dia chegou-se à conclusão que na tuberculose não há imunidade humoral com a produção de células-memória, sendo a vacina ineficaz contra a tuberculose pulmonar. Porém, a vacinação contra a tuberculose é extremamente eficaz para prevenir formas graves da tuberculose nas crianças, como a meningite tuberculosa.

Deste modo, em alternativa aos antibióticos como um método de tratamento de doenças devem se desenvolvidos outros métodos, sobretudo de prevenção. Entre as formas de prevenção devem ser destacadas as medidas de higiene individual e a vacinação. Os seres vivos competem entre si desenvolvendo mecanismos de defesa contra as substâncias e organismos perigosos. A evolução é o resultado de interacção de organismos e meio ambiente e a adaptação. Deste modo, os antibióticos não são a cura contra todas as doenças e em breve iremos enfrentar novas ameaças, possivelmente mais perigosas do que as do século passado.