(Platão, s.d.)
Hoje em dia ninguém
questiona os benefícios do avanço científico e tecnológico da humanidade.
Aqueles que o contestam criticam, evidentemente, a sua própria existência, pois
sem o progresso científico-tecnológico esses indivíduos não seriam capazes,
provavelmente, de sobreviver ou chegar à terceira idade e permaneciam no estado
de primatas das cavernas. Porém, os mais inteligentes e preocupados com a nossa
sobrevivência enquanto espécie questionaram a aplicação que o Homem dá às suas
invenções.
Os animais irracionais
e mesmo criaturas com cérebro desenvolvido ou uma organização social complexa,
tal como os golfinhos e as formigas, respectivamente, estão desprovidos de
cuidados médicos especializados e tecnologias que permitem governar as forças
assustadoras da Natureza submetendo-as às nossas regras e usando-as ao nosso
favor. A ausência de conhecimentos científico-técnicos resulta em incapacidade
de conquistar um planeta inteiro, mandar satélites para outros corpos do
Sistema Solar e para o espaço exterior a este. No entanto, estes animais
existem durante mais tempo do que o frágil ser humano - apresentam uma
estratégia biologicamente estável.
As descobertas
científicas e tecnológicas aparentemente são úteis e benéficas para os seres
racionais, mas quando chegam às mãos do Homem, mais ou menos tarde, tornam-se
uma arma perigosa. A história da metamorfose de descobertas úteis em poder
destrutivo começou com o aparecimento da espécie humana – agressiva e portadora
de intelecto. Como sempre, as intenções eram as melhores: descobrir o fogo para
se aquecer e cozer os alimentos, mas o resultado é mais drástico – a queima das
florestas. A invenção de armas para defesa tornou-se o primeiro passo para
guerras sangrentas. Até a invenção da roda, que devia ser posta nas máquinas
agrícolas, se transformou em instrumentos de guerra que mataram milhões. Nas
mãos do Homem, mesmo hoje em dia, um automóvel ligeiro de passageiros passa a
ser a uma arma mortífera responsável por milhares de mortos por ano. “De boas
intenções está o Inferno cheio.”
Na Idade Média o
conhecimento sobre a anatomia e fisiologia do corpo humano não era usado para
curar e salvar vidas, mas para provocar maior sofrimento às vítimas das
torturas. No entanto, nada se compara ao auge da mente maléfica do Homo sapiens sapiens, que se iniciou
depois da Revolução Industrial, quando o ser humano decidiu acabar não só com
os indivíduos mais próximos, mas também com todo o planeta. De facto, a Terra,
sendo o ecossistema em que nós vivemos e que garante a nossa existência, passou
a ser o principal alvo dos homens. Assim começou a Era da Poluição. Com as
novas fábricas e produtos químicos o Homem conseguiu, em duzentos anos,
destruir o equilíbrio natural. A acção dos seres humanos está a aproximar-se do
efeito de uma “extinção em massa”. Quem serão os dinossauros do terceiro
milénio?
Existem várias
semelhanças entre os humanos e os dinossauros: eles dominaram o planeta Terra
na Era Mesozóica, nós dominamo-lo actualmente. Porém, existe uma diferença
colossal - os “répteis terríveis” existiram durante mais de 185 mil milhões de
anos e desapareceram na sequência de um desastre natural, os humanos existem
como espécie há 2 milhões de anos e já estão à beira da catástrofe planetária.
O Homem como espécie tem o record
absoluto de espécies extintas. O exemplo mais citado é a extinção da ave dodó
pelos marinheiros espanhóis no século XIX. No século XXI, em média, todos os
dias desaparece uma espécie da flora ou da fauna nas florestas amazónicas em
consequência da acção do homem. Tudo isso provoca um distúrbio ecológico
profundo.
Para demonstrar a
natureza auto-destrutiva do Homem no seu apogeu temos de nos lembrar do século
XX. Uma das mentes mais brilhantes no âmbito da Física da nossa civilização,
Albert Einstein, contribuiu, involuntariamente, para a criação da arma nuclear
– talvez o mecanismo mais destrutivo do Universo. Por ironia, primeiro surgiu a
bomba nuclear e só depois a primeira central termonuclear para fins não
militares. Curiosamente, não é a única inovação científica que aparece de uma
actividade bélica.
Em suma, a
agressividade natural do ser humano, conjugada com inteligência, permitiu-nos
sobreviver durante milhares de anos num ambiente hostil, mas ao mesmo tempo
constitui o nosso “calcanhar de Aquiles”. A ausência de racionalidade nos seres
potencialmente racionais, quando estes são mais perigosos do que qualquer outro
animal, resulta numa política de auto-destruição ou destruição mútua, no caso
de uma guerra entre duas potências nucleares. Tudo isso exemplifica a “maneira
inconsciente como a Humanidade aplica as suas conquistas tecnológicas”
(Cousteau, 1978). Somos dotados de inteligência, mas não da razão – ignorantes
e cegos num campo de minas criado por nós.
Belerofonte(Pseudónimo)